sexta-feira, 10 de novembro de 2017

EPÍLOGO E ESTATÍSTICA

O ônibus ganhou a Rodovia dos Bandeirantes por volta das 21:00 para uma viagem de 15 horas rumo a Brasília. Pela janela passavam rápidas as referências estradeiras (como as unidades do Graal) para mim já familiares neste trajeto tantas vezes feito quando viaja em grupo. Não tive passageiro na poltrona ao meu lado e o ônibus tinha cerca de metade dos assentos ocupados, de forma que a viagem foi tranquila com poucas movimentações na cabine no decorrer dos muitos cochilos. Perto das 23:00 chegamos a Campinas e, dali, madrugada a dentro paramos nas cidades de Pirassununga, Ribeirão Preto, Uberaba... Araguari surgiu no fim da madrugada e, em seguida, a parada do café nas proximidades de Cristalina!
Tal como em toda a ciclo-viagem, diferentes brasis deram as caras, tanto na própria terra, diversa em suas expressões naturais, quanto nas pessoas, diversas em expressão cultural. Mudavam sutilmente os sotaques dos atendentes nos pontos de parada, os quitutes e iguarias culinárias oferecidos e até mesmo peculiaridades urbanas e arquitetônicas nas cidades! As paisagens converteram-se de matas tropicais úmidas gradualmente para o cerrado, ainda ocre mas já pontilhado de brotações verdes da recém-chegada estação chuvosa!
Desembarquei em Brasília por volta de 12:30, trazendo ao saguão os alforges e a caixa da bike em um carrinho de bagagens. Ali mesmo fui retirando as peças da bike de dentro da caixa e pus-me a monta-la... meio saguão parecia assistir com curiosidade a cena! Com ganho de prática, em meia hora a "namoradinha" estava restabelecida, imediatamente ganhando mais fotos de umas duas pessoas por ali, chamativa com os guidões de viagem e mais ainda assim que lhe coloquei os alforges. Entreguei a caixa a um guarda do terminal rodoviário e guiei a bike para a estação de metrô ali do lado. Em meia hora estávamos de volta a Taguatinga... em casa! No lar, nada mudara em 33 dias senão uma coelha de estimação de minha irmã, já mais crescida! Eu, contudo, sentia não ser a mesma pessoa! Podia sentir, como se estivessem cristalizadas no ambiente, os medos, receios e inseguranças que tinha com relação a esta viagem e que foram caindo pelo caminho! Entrei no meu quarto e tudo pareceu alheio demais a todas as minhas vivências, às pessoas que eu conheci e que trouxe no coração; tudo bem que é apenas um quarto com coisas... coisas não vivem, não sentem! Ainda assim, é como se meu espírito demandasse que ali também essas coisas tivessem espontaneamente, ao menos, se movido de lugar, caído ou mudado de cor, manuseadas por uma "entidade das mudanças"... a entidade, todavia, era ninguém mais senão eu mesmo! Eu mudara!

De volta à vivência doméstica, aos lugares comuns e ao trabalho, os números da aventura contrastaram com a agora aparente pequenez do meu dia a dia: Foram 1.307Km de estradas de Brasília a Belo Horizonte (748Km) e de Juiz de Fora a Ilhabela (559Km), 1.556Km no total absoluto, incluindo passeios e trânsitos pelas cidades, em três estados mais o Distrito Federal. 33 dormidas sendo 1 ônibus, 1 hotel, 1 alojamento de faculdade, 4 noites via hosts do Couchsurfing, 8 noites em barraca, 14 noites em casas de amigos (inclusive feitos na viagem) e 4 noites em Hostel. As despesas da viagem calculadas da saída até a chegada em casa totalizaram R$ 1.635,38, com média de R$ 55,86 ao dia!
A "namoradinha" teve apenas 1 furo de pneu em toda a viagem! Na manutenção houve apenas uma substituição de sapatas de freio além das 32 lubrificações de corrente e 4 pilhas para luzes de segurança. Foram 24 pedaladas registradas no Strava, ganho de elevação acumulado de 19.820 metros (mais que o dobro do Monte Everest), velocidade máxima de 64,6km/h (descida da serra para Angra dos Reis), maior pedala em um único dia com 147,6Km (Vassouras - Angra) e maior escalada contínua com 703 metros (estrada dos Castelhanos, em Ilhabela). A velocidade média global ficou em 15,3Km/h! O dia com mais horas em movimento teve 10 horas de pedalada (Taguatinga/DF - Cristalina/GO) e foram quase 102 horas em movimento!

Não vou enumerar quantas pessoas conheci no caminho, embora pudesse pois lembro de cada uma! Não gosto de transformar pessoas em números! Algumas delas tornaram-se o grande ganho da viagem, tanto em memória para ser revivida quanto em metas de reencontro por aí...

...motivação para novas "pedalanças" de um autêntico Biketariano, nascido sob o signo da liberdade!